Uma reflexão sobre os processos de colonização

“Por que os Estados Unidos são tão ricos e nós, o Brasil, somos tão pobres? Por que as coisas parecem dar certo lá e não aqui? (…) As explicações de maior sucesso são sempre as mais simples, mesmo que a realidade seja de fato muito complexa. Uma destas explicações, talvez a pior de todas, argumenta que existem colônias de exploração e de povoamento.

As colônias de exploração, é claro, seriam as ibéricas. Como aprende-se na definição, as áreas colonizadas por Portugal e Espanha existiram apenas para enriquecer as metrópoles. Nesse tipo de colônia, as pessoas sairiam da Europa apenas para enriquecer e retornar ao país de origem. Esta verdade tão cômoda explicaria o subdesenvolvimento de países como Peru, Brasil e México: todos eles foram colônias de exploração.

O oposto das colônias de exploração seriam as colônias de povoamento. Para essas, as pessoas iriam não com o objetivo de enriquecer e voltar, mas para morar na nova terra. Logo, sua atitude não seria predatória, mas preocupada com o desenvolvimento local. Isto explicaria o grande desenvolvimento das áreas anglo-saxônicas como os EUA e Canadá. (…)

No século XVII, quando a América espanhola já apresentava universidade, bispados, produções literárias e artísticas de várias gerações, a costa inglesa da América do Norte era um amontoado de pequenas aldeias atacadas por índios e rondadas pela fome. (…) Decorridos cem anos do início da colonização, caso comparássemos as duas Américas constataríamos que a ibérica tornou-se muito mais urbana e possuía mais comércio, maior população e produções artísticas e culturais mais ‘desenvolvidas’ que a inglesa.

Nesse fato vai residir a maior facilidade dos colonos norte-americanos em proclamarem a sua independência. (…) a falta de um efetivo projeto colonial aproximou os EUA de sua independência. As 13 colônias nascem sem a tutela direta do Estado. Por ter sido ‘fraca’ (…) a colonização inglesa deu origem à primeira independência vitoriosa da América”.

KARNAL, L. A Formação da Nação. História dos Estados Unidos: das origens ao século XXI. Contexto, SP, 2011, pp.23-29.